O criticismo kantiano–redação do Enem


Influenciado pela leitura de Hume, em especial pelas críticas que este faz ao dogmatismo racionalista, Kant tenta encontrar uma solução que supere a dicotomia representada pelo ceticismo empírico e pelo racionalismo. Este é um elemento bastante interessante quando se quer fazer uma redação do vestibular. Falo disso mais no texto em meu outro blog. Veja aqui do que estou falando.

Tendo como pressuposto o ideal iluminista da razão autónoma capaz de construir conhecimento, Kant vê a necessidade de proceder à análise crítica da própria razão como meio de estabelecer seus limites e suas possibilidades. Podemos sintetizar o problema kantiano na seguinte pergunta: é possível conhecer o ser em si, o supra-sensível ou meta-físico através de procedimentos rigorosos da razão? Por seres metafísicos ele entende Deus, a liberdade e a imortalidade.

redação-enem-missão-enem-curso-online-medo-de-escrever

O primeiro passo para obter a resposta é fazer a crítica da razão pura. Em suas palavras, a crítica é um "convite feito à razão para empreender de novo a mais difícil das tarefas, o conhecimento de si mesma, e para instituir um tribunal que a garanta nas suas pretensões legítimas e que possa, em contrapartida, condenar todas as usurpações sem fundamento".
Para empreender essa tarefa, Kant propõe o "método transcendental", método analítico com o qual empreenderá a decomposição e o exame das condições de conhecimento e dos fundamentos da ciência e da experiência em geral.

Feita a reflexão crítica, chega à conclusão de que há duas fontes de conhecimento: a sensibilidade, que nos dá os objetos, e o entendimento, que pensa esses objetos. Só pela conjugação das duas fontes é possível ter a experiência do real.

É a partir desses dados que Kant faz a revolução na teoria do conhecimento: em vez de admitir que nosso conhecimento se regula pelo objeto, inverte a hipótese: são os objetos que devem regular-se pelo nosso modo de conhecer. O sujeito cognoscente tem formas (ou modos próprios) a partir das quais recebe os objetos.

As formas ou conceitos a priori (anteriores à experiência) são as condições universais e necessárias para o aparecimento de qualquer coisa à percepção humana e para que esse aparecimento se torne progressivamente mais inteligível ao entendimento. Assim, as formas são constitutivas de toda nossa experiência de mundo, de todo nosso conhecimento. Isto quer dizer que não somos folhas em branco, sobre as quais os objetos deixam suas impressões, mas, enquanto sujeitos do conhecimento, ajudamos a construí-lo, colaboramos com nosso modo de perceber e entender o mundo. Como consequência, só conhecemos os fenómenos enquanto se relacionam a nós, sujeitos, e não à realidade em si, tal qual é, independente da relação de conhecimento.

As formas a priori dividem-se em:

•  formas a priori da sensibilidade — espaço e»tempo;
•  formas a priori do entendimento puro — formas relacionais como causa e efeito, substância e atributo.

Exemplificando: a nossa percepção dos objetos sensíveis sempre os relaciona a um espaço, isto é, esses objetos se posicionam mais para frente ou mais para trás, mais ao alto ou mais abaixo, à direita ou à esquerda de outros objetos que tomamos como referência. Ao mesmo tempo, classificamos essa percepção como sendo anterior, posterior ou simultânea a outras. Essa atividade relacional só é possível através das formas a priori da sensibilidade.

Do mesmo modo, relacionamos algumas percepções sucessivas como pertencendo à categoria de causa e efeito.

A experiência, portanto, é uma unidade sintética, ou seja, não é só a combinação de matéria ("aquilo que no fenómeno corresponde à sensação") e forma ("aquilo que faz com que a diversidade do fenómeno seja ordenada na intuição, através de certas relações"), mas, também, a combinação das formas da intuição e do entendimento e suas relações funcionais.

Com isso, Kant conclui pela impossibilidade do conhecimento através do uso puramente especulativo da razão. A razão especulativa, entretanto, embora não possa conhecer o ser em si, abstrato, que não se oferece à experiência e aos sentidos, pode pensá-lo e coloca problemas que só poderão ser resolvidos no âmbito da razão prática, isto é, no campo da ação e da moral.

Ou seja, embora Deus, a liberdade e a imortalidade não possam ser conhecidos (agnosticismo) por não terem uma matéria que se ofereça à experiência sensível, nem por isso têm sua existência negada. Se o conhecimento não nos leva até eles, devemos encontrar uma outra via de acesso, uma vez que a liberdade, por exemplo, é o fundamento da vida moral.