Gabarito do exercício com a Revista Época


Lá no blog Análise de Textos, postei um exercício de interpretação usando uma propaganda veiculada na Revista Época. É uma atividade prática pronta para usar em sala de aula e para estudar para o vestibular.
GABARITO E COMENTÁRIO DO EXERCÍCIO
Comentário: Texto apropriado para discutir com os alunos questões fundamentais relacionadas a vários usos sociais da linguagem, particularmente as funções da língua escrita e o conceito de letramento em contraste com o de alfabetização. Para que servem os textos escritos? A leitura e a análise do texto publicitário é um bom ponto de partida para essa discussão. Além disso, pode-se discutir para que serve a chamada "propaganda oficial"...
1.    O aluno deve perceber que há um processo de personalização nesse emprego da palavra alfabetizado: o Brasil é considerado uma entidade dotada de vida autônoma e própria. Esse tipo de personalização é constante no discurso publicitário oficial, que apresenta o país como um todo integrado e coeso, que caminha harmonicamente em direção ao bem-estar geral. A realidade mostra um incessante conflito de interesses em que, infelizmente, a vontade de poucos privilegiados continua a se impor sobre a de maiorias excluídas.
2.    Há um jogo com palavras que, no texto, adquirem sentidos opostos: nunca / sempre; aprender / ensinar. Esse jogo faz com que se atraia a atenção do leitor, motivado pela "provocação" dessas palavras. Outra coisa a destacar é que a frase, do modo como está construída, remete a uma forma estereotipada da língua, o bordão "nunca é tarde para...", muito freqüente em discursos de aconselhamento.
3.    De acordo com o texto, a alfabetização é "um dos princípios básicos da cidadania", pois garante "o direito de assinar o próprio nome", a capacidade de "identificar o destino de um ônibus", de "preencher uma ficha de emprego" e de "pagar as contas no banco". É desse ponto que pode partir uma discussão séria com os alunos sobre os usos da língua escrita e sua importância para a vida de cada um. O texto publicitário enfatiza as possibilidades utilitárias da alfabetização, mostrando que o indivíduo que se torna capaz de decodificar as letras se habilita a assinar o próprio nome, a tomar o ônibus certo, a preencher ficha de emprego e a pagar conta em bancos. Acreditamos que é muito importante conversar com os alunos sobre o direito ao letramento, ou seja, o direito a muito mais do que a simples alfabetização: é necessário que se ofereça ao indivíduo a possibilidade de freqüentar com desenvoltura o mundo da escrita, no qual circulam textos de natureza variada que possibilitam o acesso à informação, ao prazer verbal e a muitas formas de interação verbal que, para além de garantir benefícios profissionais, fazem parte de algumas das melhores coisas que a humanidade foi capaz de produzir - como o patrimônio literário, a filosofia, o ensaísmo.
4.    Já mencionamos na resposta à questão anterior a necessidade de distinguir entre alfabetização e letramento. É necessário que se lute não apenas pela mecânica de de-cifração e produção de letras - o que constitui a alfabetização -, mas também pelo acesso a toda a complexa dinâmica do mundo da escrita, que inclui a capacidade de interagir criticamente com toda a produção escrita da sociedade contemporânea. É óbvio que a alfabetização é pré-requisito indispensável do letramento - mas também é óbvio que a ênfase na utilidade da alfabetização é uma forma de cercear-lhe o alcance. Ela deve ser, isto sim, o primeiro passo no sentido do letramento mais amplo possível, com tudo o que este implica de desenvolvimento da autonomia na pesquisa e produção de conhecimento, e da formação de um apurado sentido crítico - ambos ferramentas utilíssimas no desempenho de qualquer profissão e, ao mesmo tempo, formas melhores de estar no mundo.
5.    Discutir com os alunos qual o papel desse texto publicitário nesse meio - é informar aos leitores de Época o que o governo vem fazendo pelos analfabetos e incentivá-los a participar do grande "mutirão alfabetizador" nacional ou é criar uma imagem positiva do governo, que se dedica a causas sociais? Ou é uma forma de fazer as duas coisas ao mesmo tempo? Deve-se destacar que o texto distingue aqueles que serão alvo da alfabetização daqueles a que se dirige, que são potenciais alfabetizadores ou colaborados do projeto. Os alunos se sentem motivados pelo texto a colaborar? Discuta tudo isso com eles e faça-os pesquisar, se necessário, para saber se o projeto "Brasil Alfabetizado" vem alcançando os objetivos a que se propõe.